sábado, 30 de outubro de 2010

Pela valorização da Educação Infantil

Por Érica de Campos






Infelizmente, ainda é comum presenciarmos pessoas desvalorizando a Educação Infantil, vendo as creches e pré-escolas como simples depósitos de crianças; até mesmo profissionais da educação mantém o mito de que a Educação Infantil é desnecessária e que tudo não passa de uma grande brincadeira. Não é bem assim.
Embora a Educação Infantil há mais de um século tenha sido entendida como cuidado e educação extra domiciliar, foi reconhecida na Constituição Federal de 1988, destacada no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e reafirmada a poucos anos como direito da criança, das famílias e também como dever do Estado, estabelecida pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, como “primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança [...], em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (título V, capítulo II, seção II, art. 29). Ou seja, a Educação Infantil é a etapa inicial da Educação Básica e integrante dos sistemas de ensino. Já passou do tempo de acharmos que a Educação Infantil não tem a sua importância. Pelo contrário, por ser a base de toda a educação, sua importância é maior ainda! Todo o desenvolvimento posterior da criança irá refletir suas vivências, seu aprendizado na Educação Infantil.
Hoje, a Educação Infantil pode ser dividida basicamente em duas categorias: creches ou entidades equivalentes, que atendem à crianças na faixa etária de 0 a 3 anos, e pré-escolas, que atendem a crianças na faixa etária de 4 e 5 anos, uma vez que, o Projeto de Lei nº 144/2005, aprovado pelo Senado em  2006, estabelece a duração mínima de 9 anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 anos de idade. A matrícula da criança na Educação Infantil não é obrigatória, sendo uma opção da família, porém, é direito da criança e dever do Estado assegurar que esta educação seja mantida e tenha qualidade.

Não é obrigatória, mas todo mundo sabe (ou deveria saber) que a Educação Infantil possui um papel fundamental no processo de formação do sujeito. Atualmente a sua importância vem sendo cada vez mais reconhecida, fazendo com que a sociedade cada vez mais exija dos poderes públicos e também contribua para que esta evolua, pois depende também de uma Educação Infantil de qualidade, o futuro de nossas crianças, de nosso país, de nosso planeta!
Mas ainda assim, mães e pais, muitas vezes por ignorar a importância da Educação Infantil, colocam seus filhos em creches e pré-escolas, com o simples intuito de “guardar” seus filhos para que possam trabalhar sossegados, não compreendendo que aquelas horas diárias que seus filhos ficarão na “escolinha” são as horas que, provavelmente, irão determinar o tipo de adulto que ele irá se tornar. Por isso desvalorizam a Educação Infantil e acham que os profissionais que estão ali estão apenas brincando com seus filhos. Brincando também, pois brincar é um direito da criança! Cuidando, conhecendo e tentando compreender as particularidades de cada uma delas, desenvolvendo mecanismos que possam ajudar a construir a identidade desta criança, pois a Educação Infantil tem como finalidade cuidar para que a criança tenha o seu desenvolvimento integral, não só no aspecto físico, mas no aspecto intelectual, psicológico e social.
Hoje há inúmeras leis que visam proteger a infância garantindo os direitos da criança, como já foi citado antes, tornando não só obrigação do poder público, mas também da família e da sociedade em geral garantir que estas leis sejam cumpridas. Além disso, é crescente o surgimento de pesquisas, nas áreas médicas e educacionais, sobre desenvolvimento do homem, a formação de sua personalidade, a construção da inteligência e aprendizagem, mostrando o quanto é importante e necessário o acompanhamento e a assistência na infância. Crescente também é o número de estudiosos na área de produção das culturas infantis, história da infância e pedagogia da infância mostrando como é vasta e até complexa a temática da infância, fundamental para a formação do indivíduo.
Ou seja, a Educação Infantil está diretamente ligada a todos estes movimentos, que só tendem a crescer. Participar disso é muito importante para o desenvolvimento de uma sociedade melhor. Hoje, mais do que nunca, sabe-se que uma criança que teve acesso à Educação Infantil de qualidade, terá um desempenho melhor no Ensino Fundamental, que por sua vez proporcionará um melhor desempenho no Ensino Médio e que por sua vez garantirá o sucesso na vida acadêmica. É tudo uma questão de lógica, uma construção firme e resistente é aquela que tem a base sólida. Portanto, convoco a todos: faça parte desse movimento também, valorize a Educação Infantil! 



*Texto de Érica de Campos - publicado em setembro de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.


* Imagens: Logotipo do PROINFANTIL - curso promovido pelo MEC em parceria com os municípios com intuito de valorizar e qualificar os profissionais de Educação Infantil

domingo, 24 de outubro de 2010

Bullying – O que é isso?!

Por Érica de Campos




Talvez você não saiba ainda o que é Bullying, mas provavelmente já ouviu esta expressão. Bullying vem do substantivo da língua inglesa bully, que significa uma pessoa que se utiliza de poder ou de força para ameaçar ou ferir as mais frágeis. Em português, essa palavra pode ser interpretada como assédio moral ou físico ocorrido especialmente no ambiente escolar, isso não quer dizer que o bullying ocorra somente na escola, ele pode ocorrer no trabalho, no condomínio, num time de futebol, na academia, enfim, em qualquer lugar ou grupo social.
O bullying se identifica no ato de “sacanear” o colega, seja colocando apelidos, praticando ofensas, zoando, discriminando-o de várias formas, humilhando, excluindo, perseguindo, aterrorizando, intimidando verbalmente ou chegando a agressões físicas - batendo, empurrando, ferindo, quebrando ou roubando pertences, etc. Ou seja, há uma infinidade de atos praticados, na maioria das vezes por crianças e adolescentes no ambiente escolar, que infelizmente, muitas vezes são consideradas brincadeiras comuns. Pode até ser, por vezes, consideradas brincadeiras, mas nem sempre inocentes. Estas brincadeiras podem ter sérias conseqüências, podem desencadear uma série de fatores negativos para quem a sofre, por exemplo, simples apelidos repetidos inúmeras vezes, com intenção discriminatória, pode fazer com que uma pessoa se sinta de tal forma humilhada e marcada que demore uma vida inteira para superar este fator e por vezes pode até acontecer de não superá-lo.
Existem inúmeras maneiras de agressões, que variam dos, aparentemente, inofensivos apelidos aos palavrões, da humilhação à difamação, de um bate-boca passando pelas pancadas às ameaças, e como uma “bola de neve”, o bullying cresce e toma conta de todo ambiente escolar e por muitas vezes, pode chegar a atingir ambientes fora da escola, comprometendo a todos – alunos, professores, diretores e família - uma vez que todos participam direta ou indiretamente.
Vários personagens podem integrar este “drama”: Os “personagens principais” são os autores (os que praticam o bullying), os alvos (os que sofrem o bullying) e os autores-alvos (que ficam mudando de posição, ora são autores, ora são alvos). E também há os “coadjuvantes”, que são as testemunhas (os que acham graça de tudo e gostam de ver o sofrimento dos alvos, ou que mesmo achando a prática errada ou injusta, se calam com medo de virarem alvos também).





O fato é que o problema é muito sério e não deve ser ignorado. Em nosso país, nos últimos anos, vem aumentando a preocupação sobre este assunto; a mídia já aborda este tema com mais freqüência, pesquisas e campanhas tem sido feitas afim de entender e promover novas políticas para combater o bullying, principalmente no ambiente escolar. É preciso que a sociedade como um todo participe, pois o bullying só poderá ser extinto ou ao menos atenuado com a participação da escola - diretores, professores e funcionários – e da família – alunos e responsáveis. É extremamente necessário que as escolas criem novos meios (se possível com a participação da família) para diminuir a prática do bullying, que por sua vez tem diversas causas. Não adianta penalizar quem pratica o bullying, pois este também precisa de ajuda - muitas vezes tudo isso pode ser apenas a reprodução de um comportamento agressivo que é recebido dentro de seu próprio lar. É preciso encarar o problema, criando novas maneiras de valorização e incentivo às diferenças, fechando as portas para qualquer tipo de preconceito, tanto na escola, como em casa também.
O ambiente escolar não pode nem deve se tornar palco para atrações de angústias e sofrimentos, não devemos nos omitir e passar a ver tudo como se fosse brincadeira para poupar trabalho. Ou será que assistiremos imóveis a escola deixando de ser um espaço de criação e produção de conhecimento, um local de socialização pacifico, para se transformar em um local de produção e reprodução de confusões e conflitos, um lugar sem paz? Em casa ou na escola, educar dá trabalho! Educar nunca foi nem nunca será simples.









*Link para o blog da iniciativa criativa da Cia. de Atores de Mar para combater o bullying:
*Link para uma abordagem interessante sobre o tema em uma site para o público adolescente: 



* Texto de Érica de Campos - publicado em agosto de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.

“É desde de menino que se torce o pepino”

Por Érica de Campos






Não é de hoje que a questão do hábito e gosto pela leitura não é muito popular entre os brasileiros. Mas se a maioria das pessoas gira em torno de práticas comuns, porque o hábito da leitura, o gosto por livros, pela literatura, também não se torna uma prática comum a todos?
Já dizia e diz o ditado: “É desde de menino que se torce o pepino”. Pode parecer bobeira, mas aí está a sabedoria popular nos trazendo luz à questão - É na infância que se deve iniciar o contato com os livros, com as palavras, pois, antes mesmo de aprender a “ler as letras”, já somos capazes de ler as imagens, ler o mundo e seus significados, o que, cá entre nós,  hoje em dia é imprensedível para aqueles que pretendem buscar o seu lugar ao sol.
Não subestimemos nossas crianças, e muito menos deixemos a tarefa de ensinar nossos filhos a ler para a escola. Quando chegar o momento, a escola obviamente terá que desempenhar o seu papel quanto a este assunto, mas é também dever da família mostrar à criança este universo, que vai muito mais além do bê-á-bá, que não julgo desnecessário, pois é preciso entender os códigos da língua, porém, há diferença entre juntar letras e o ato de ler.
O ato de ler está baseado no exercício, na articulação do pensar e agir, enquanto o juntar letras restringe-se apenas na decodificação e repetição mecânica de símbolos, sem nenhum tipo de interpretação, sem análise crítica, ou seja, sem entendimento completo.
A família desempenha um papel importante na vida da criança, e deve promover o ato de ler para que, ao ser incorporado no ambiente de casa (que é a sua realidade) construa seu gosto pessoal pela leitura, inclusive, esta prática não só estará contribuindo para que esta criança desenvolva a capacidade de leitura e análise critica do mundo, como também, antes do que se imagina, facilitará o seu processo de alfabetização. Ou seja, esse gosto pelo ato de ler pode sim, ser transmitido dentro de casa, e deverá se tornar futuramente uma parceria entre família e escola.
Não estou aqui dizendo que as famílias agora devem rechear a infância de seus filhos com dicionários e enciclopédias.  Este universo do qual estou falando, é muito mais simples do que se possa imaginar, pois poderia estar agregado ao nosso cotidiano como algo comum, aliás, já esteve há tempos atrás, mesmo sem querer, na época da vovozinha, mas em meio a essa nossa vidinha moderna que temos adotado, mediante as escolhas que achamos que somos obrigados a fazer, deixamos de lado o que supúnhamos mais banal – o convívio e a real preocupação com a criação de nossos filhos. Simples assim. Falo, por exemplo, do contato que se dá seja através das canções de ninar ou das histórias de família contadas às crianças, pois esses são momentos que auxiliam no incentivo a leitura, criando um ambiente de participação e curiosidade da criança, criando um vínculo mais forte ainda entre pais e filhos. Seja em um incentivo da mãe, ao criar oportunidades de contato com as palavras, com os nomes das coisas, pelas ilustrações de livros, cantigas de roda, histórias contadas, brincadeiras de faz-de-conta ou em um incentivo do pai auxiliando no processo de alfabetização, na invenção de uma história através de desenhos, no ato de recontar a história de um filme, enfim, são pequenas ações cotidianas que podem incluir e conduzir o incentivo à leitura.
Ninguém pode gostar do que não conhece. Assim também acontece com o livro – se ninguém assume o papel de apresentar o livro à criança, sabendo ela ler ou não, como poderá esta se interessar e se render aos encantos do universo dessa linguagem maravilhosa que o livro e a literatura possuem? Logo, o ideal seria que a família desse início a este contato entre a criança e a literatura, habituando-a desde a mais tenra idade a ouvir as mais diversas histórias nas mais diversas situações no cotidiano de sua casa, ou seja, tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona, e quanto mais cedo isso ocorrer melhor será – a criança, antes mesmo de freqüentar a escola, vai criar o interesse pela leitura, vai querer buscar no livro e encontrar uma fonte de alegria e prazer. Esse ato, geralmente, ultrapassa os limites de casa, e como se fosse uma cadeia de sequências, leva a criança a procurar e criar o hábito de ler e de visitar livrarias, bibliotecas, feiras de livros infantis, entre outros. Sendo muito fácil a compreensão de tal fenômeno: se existe em casa um ambiente favorável para leitura, familiares que preservam este hábito, as crianças, por sua vez, procurarão imitá-los.


Os pais podem iniciar este processo contando histórias para os filhos dormirem, incentivá-los a criar e contar histórias em casa (na presença de outras crianças como irmãos, amigos ou primos fica mais fácil ainda), presenteá-los com livros, passear em feiras literárias, assim haverá sempre uma troca de conhecimentos e se torna possível criar um estímulo para que as crianças desenvolvam um real prazer pela leitura, pois, até mesmo crescendo em ambientes repletos de livros, ainda assim, não adiantaria nada se o contato com o livro não acontecesse de forma natural e prazerosa. Assim, se cada um de nós incentivarmos o contato com os livros, nossas crianças - futuros adultos - começarão a se interessar de verdade pela leitura.



Algumas vantagens para quem desenvolve e mantêm o hábito da leitura:





  • Amplia o vocabulário;
  • Facilita a escrita;
  • Estimula a criatividade e a imaginação;
  • Aumenta a capacidade de desenvolver boas idéias;
  • Acumula conhecimento e experiência;
  • Ajuda no entendimento do seu mundo e do mundo à sua volta;
  • Ajuda a conhecer e respeitar outras culturas e modos de vida, diminuindo as possibilidades do   desenvolvimento de preconceitos.









* Texto de Érica de Campos - publicado em julho de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.
* Imagens do cartunista e escritor Ziraldo