domingo, 3 de julho de 2011

3 Américas - Documentário

3 Américas, documentário de Alex Araújo.

     Dia 18 de junho, Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, aula de audiovisual para educadores. O professor Clayton Leite mais uma vez ele surpreende nos apresentando Alex Araújo, cineasta, disposto a compartilhar seu conhecimento e experiência com a turma, e melhor ainda, assistiríamos 3 Américas - um documentário feito por ele, e depois, logicamente, poderíamos bombardeá-lo com perguntas, discutir sobre o tema, ou seja, estava armada a sabatina! 

Professor Clayton Leite e Alex Araújo.

    Pois é. Abrindo um parênteses, eu tenho que falar um pouquinho do Professor Clayton Leite. Aliás, não sei se ele tem formação específica para docência, mas essa aqui não seria a questão, pois ele simplesmente é um ótimo professor ao meu ver. É aquele que não dá o conteúdo mastigado, mas conduz para chegar a determinado ponto. Ele faz com que cheguemos a conclusão por nossa conta. Acredito mesmo que é bem por aí: quantas indicações de livros, filmes, sites, nomes, links ele traz em todas as aulas, aliás sempre diferentes, agradáveis e enxutas. Em menos de dois meses conheci muita coisa bacana e diferente, e o melhor de tudo, úteis para o crescimento profissional e pessoal. Basta ficar atento e saber "pescar" cada informação, com ele não há desperdícios!

    Bem, voltando ao assunto... Simpatissíssimo e atencioso, Alex nos deu uma super aula sobre cinema (basicamente a aula se focou na importância e nas diferenças entre  D. W. Griffith e Serguei M. Eisenstein) , e depois de assistirmos o seu documentário foi todo ouvidos para os nossos questionamentos, e nos contou que a ideia de fazer o documentário surgiu da observação do trajeto que fazia todos os dias para ir à faculdade, pois como morador de Campo Grande indo para a Barra da Tijuca, ele passava necessariamente todos os dias na Avenida das Américas e obviamente notou as diferenças que iam acontecendo ao longo do  percurso - uma avenida que começava mal asfaltada, sem sinalização e sem acostamento, com comércio e casas pequenas e as vezes até mal construídas, se transformava em quatro pistas bem asfaltadas e sinalizadas, cercada de luzes, condomínios e prédios bem feitos, shoppings gigantescos ostentando uma falsa paisagem norte americana.

Alex Araújo, cineasta - Diretor de 3 Américas

   Além disso,  pudemos saber, entre outras coisas, sobre a finalidade do documentário (trabalho de conclusão de curso - Cinema na Universidade Estácio de Sá) como foi escolhida a trilha e qual o processo para que consiga a autorização para tal, sobre determinadas situações na filmagem de determinadas cenas, o processo de edição e montagem, enfim, todas as dificuldades e facilidades que Alex teve em sua experiência com 3 Américas nos foi passado, o que facilitou na discussão que houve após a exibição do documentário, pois além de elaborarmos nossas próprias impressões, pudemos compartilhá-las com o idealizador que estava ali presente - simplesmente uma experiência única e proveitosa.

Turma de audiovisual para educadores - Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu

    Com a trilha sonora do Mundo Livre S/A (aliás, confiram a letra, escolha perfeita: Ultrapassado e Soy loco por Sol) o documentário 3 Américas me conquistou já nos primeiros segundos. Na verdade, a proposta do 3 Américas é fazer uma analogia entre a Avenida das Américas (Rio de Janeiro) e o Continente Americano, ambos  "divididos", não só territorialmente, mas  culturalmente, socialmente e principalmente economicamente.  Através de um "passeio" ao longo da Avenida das Américas, o documentário mostra personagens diversificados para pontuar essas diferenças, diferenças essas claramente mostradas, por exemplo através de respostas para uma simples pergunta sobre o maior sonho deles -  enquanto um personagem responde "Meu maior sonho irmão, é ter uma casa digna." a outra diz "Tudo que eu sempre quis eu tenho."

     A meu ver, o documentário nos mostra o caos social brasileiro usando a Avenida das Américas (Rio de Janeiro) como exemplo, buscando justificativas na História, com o depoimento de historiadores (Paulo Duarte e Silvia Oroz), desde o processo de colonização até a situação atual de exclusão social em que vivemos. E reafirmando esse caos nos personagens moradores dessa avenida, representantes da sociedade brasileira com suas diferenças sociais marcadas por sua aparência, fala, história de vida... Paralelamente, também mostra uma preocupação, ou melhor dizendo propõe uma reflexão sobre o sistema capitalista e sua influencia na vida das pessoas: alienação cultural (independentemente de situação econômica, ainda que por motivos distintos ou não), consumismo, a obsessão pelo modo de vida americano (estadosunidense), abismo socioeconômico, enfim, enquanto um grupo discute as causas, o outro sofre as consequências.
     Uma fala muito marcante e pessimista, que para mim resume bem o que o documentário mostra, é  a fala da moradora, que representa por assim dizer, a elite da Avenida das Américas,  Dayse: 

"Quem tem continua tendo muito e quem não tem continua ralando, acordando as quatro da manhã pra trabalhar. E agente convive com isso aqui sim. A Avenida das Américas, enorme como ela é, tem essa parte da Barra da Tijuca, maravilhosa, primeiro mundo e tem o restante da Avenida das Américas que acho que é uma quilometragem muito maior, que é um nível social bem mais baixo, é o pessoal que não tem condição, que vem prestar serviço na Barra da Tijuca: é a diarista,  é o pedreiro, é o que faz obra de emergência nos condomínios, é o porteiro, é o faxineiro. A gente convive com isso todo dia. Os próprios empregados de condomínio moram na Avenida das Américas lá pra baixo, e eu acho que essa diferença não mudou nada e eu acho que nem muda."

    Acredito que documentário quer que pensemos de forma crítica todas essas diferenças apresentadas. Isso é somente uma amostra da realidade que não se pode negar, mas que se aceitarmos, fica impossível mudar. Compreendo que é difícil não se tornar pessimista como a Dayse, na verdade, na situação dela fica muito fácil aceitar que nada vá mudar um dia; mas uma das coisas mais bacanas que fica do 3 Américas, é a última fala do morador Nielson, representante da "plebe", que nos diz indiretamente para não perdermos as esperanças:

"Quando você as vezes pensa que está tudo perdido, uma luz se acende lá no final pra você, te mostrando um caminho. E é com essa fé que eu vou levando o meu dia-a-dia..."

   Para mim, essa fala não é a ideal, na verdade é até um pensamento que aprisiona, que de certa forma acomoda, a gente não pode aceitar, pois a situação do país, do mundo, não deveria contar com a fé. Na verdade, não acredito que nada disso tenha a ver com Deus, mas é o que temos, é o que resta à maioria da população mundial, e espero que essa fé sirva como força motriz para a criação de pensamento crítico e consequentemente ações que mudem um dia essa realidade, que infelizmente não é só Americana.




Assistam a seguir o 3 Américas e tirem suas conclusões!




Pedagogicamente podemos trabalhar...

Com este documentário é possível trabalhar, através de projetos, seminários e mesa-redonda, principalmente com as disciplinas de História e Geografia, uma vez que tem temas abordados são pertinentes a estas disciplinas, como o capitalismo, diferenças socioeconômicas  consumismo, alienação cultural... Sendo possível também trabalhar a disciplina Português, com a interpretação e produção textual, abordando por exemplo, o tema pessimismo x otimismo em relação a situação do país, usando a fala dos personagens Dayse (pessimista) e Nielson (otimista) e o porque de cada um pensar de determinada forma. 

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