Nossas primeiras relações sociais ocorrem em torno do ato da nutrição – é na amamentação, ou seja, através da mãe, que o contato com a alimento se inicia. O bebê depende totalmente de quem o alimenta, estabelecendo-se a partir disso uma relação muito intensa e cheia de significados, e quem o alimenta também se vê envolvido: a mãe ao alimentar seu bebê continua, através desse ato, a dar-lhe vida. Uma vez que esta relação com a mãe é estabelecida saudavelmente desde o início, torna a criança mais segura e feliz para naturalmente se criar ao longo de seu crescimento bons hábitos alimentares.
Acontece que pesquisas recentes mostram que o número de crianças obesas ou com problemas relacionados à má qualidade na alimentação (diabete do tipo 2, hipertensão, aumento da pressão arterial, distúrbios hormonais, alterações na postura, colesterol alto...) e adolescentes com distúrbios alimentares (bulimia, anorexia...) vem crescendo vertiginosamente em nosso país. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em levantamento recente aponta índices preocupantes: 155 milhões de jovens apresentam excesso de peso em todo o mundo, já aqui no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, existem hoje 6,7 milhões de crianças obesas. Especialistas apontam, entre outros fatores, o sedentarismo e o grande consumo de alimentos com baixo valor nutricional consumidos pelas crianças como agravantes da situação.
Muito refrigerante, fast food, snacks, churrascos, hambúrguer e fritas. Como evitar que as crianças sedam à essas tentações? As indústrias investem cada vez na fabricação de guloseimas e alimentos ricos em gorduras, opções que atraem (e muito!) as crianças, que por sua vez são alvos fáceis de serem atingidos pela publicidade. E ainda temos o fator família e escola: os pais muitas vezes não controlam a alimentação dos filhos, e até mesmo buscam compensar a falta de atenção com comida (e normalmente aquelas menos nutritivas), criando a inversão de valores, ou seja, comer um super hambúrguer com batata-frita e refrigerante, mais um sundae de sobremesa se torna o maior prêmio que se pode ganhar! Já as escolas também não têm ajudado muito com suas cantinas recheadas com os alimentos mais chamativos e menos nutritivos possíveis. Visando o lucro, pouco se importam e “esquecem” de ensinar bons hábitos alimentares aos pequenos e incentivam a compra desses alimentos na própria instituição; muitas vezes deixam a responsabilidade única e exclusiva de formar o hábito alimentar saudável para os pais, que tem a maior responsabilidade sim, mas a escola não deveria nem poderia se omitir.
É de grande importância que tanto os pais como a escola ensine e incentive a criança a ter bons hábitos alimentares. A criança deve ter acesso à um “prato completo”, variado, rico em alimentos saudáveis. Além do próprio exemplo dentro de casa, na variedade de alimentos e em como acontecem os momentos reservados para o ato de alimentar-se, rotinas em relação aos horários de alimentação da criança é importante para a formação de um ambiente favorável para criar bons hábitos alimentares.
Também é interessante deixar a criança ter um contato mais direto com o seu alimento; não importando se ela vai se sujar ou vai demorar um pouco mais para comer, esse momento da criança com o alimento lhe dá a oportunidade de conhecer e vivenciar o ato de alimentar-se de modo prazeroso. Se possível, haver variedade no preparo dos alimentos – refeições coloridas e diversificadas: arroz, feijão, verduras, legumes, carnes e frutas devem variar diariamente. Às vezes pode ocorrer da criança rejeitar determinado tipo de alimento, neste caso é fundamental não desistir de oferecê-lo sempre que possível, uma hora ela terá a curiosidade de experimentá-lo e poderá gostar.
O ideal é que ensinem desde cedo às crianças a importância da boa alimentação, não simplesmente dizendo que X faz bem e Y faz mal e pronto! É preciso explicar às nossas crianças (a cada faixa etária com linguagem adequada) sobre os nutrientes de cada alimento e suas funções e o porquê determinados alimentos podem prejudicar sua saúde e devem ser evitados. É preciso que a criança, assim como os adultos, descubram o valor e o prazer de se alimentar bem!
Mais sobre o assunto...
O Ministério da Saúde disponibiliza diversas publicações em seu site direcionadas para uma política pública com intenções de informar e incentivar os hábitos alimentares saudáveis, entre elas estão:
- Dez passos para uma alimentação saudável - Guia alimentar para crianças menores de dois anos;
- O que é Vida Saudável? - Álbum seriado;
- Receitas regionais para crianças de 6 a 24 meses;
- Guia prático de preparo de alimentos para crianças menores de 12 meses que não podem ser amamentadas;
- Caderno de Atenção Básica - Obesidade;
- Alimentos Regionais Brasileiros;
- Indicadores de Vigilância Alimentar e Nutricional.
Cartaz: Dez Passos para uma Alimentaçáo Saudável - Crianças menores de 2 anos |
Cartaz: Dez Passos para uma Alimentaçáo Saudável |
*Texto de Érica de Campos - publicado em fevereiro de 2011, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.
*Imagens retiradas de Dez passos para uma alimentação saudável - Guia alimentar para crianças menores de dois anos, publicação do Ministério da Saúde, 2010.
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