segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Brincar é fundamental

Por Érica de Campos


       Quem ao se lembrar da infância não sente saudades das brincadeiras, dos brinquedos, dos jogos em grupo, daquele mundo do faz-de-conta? Pois é, embora muitos não saibam, todo esse “universo de brincadeira” que vivenciamos na infância são importantíssimos para aprendermos a entender e dominar a realidade. A criança ao brincar está em pleno desenvolvimento motor, afetivo e intelectual. Brincando a criança busca expressar seus sentimentos e maneira de pensar, tenta compreender a visão do outro, busca a solução de problemas, desenvolve a consciência corporal, noção de espaço e tempo, além de favorecer a socialização, a brincadeira também trás à tona questões como as de lidar com o ganhar e o perder, aceitar e ser aceito, aprender a negociar com o outro, a cooperar, a decidir, criar ou seguir regras, imitar, imaginar, enfim, inconscientemente a criança vai “crescendo” junto com o seu corpo de uma maneira saudável e agradável. O que acontece é que brincando a aprendizagem ocorre naturalmente e quando a criança vivencia esse mundo intensamente ela constrói uma base sólida que será importante quando ela entrar em contato com aprendizagens mais complexas. Brincar de amarelinha, pular corda, pique-esconde, são exemplos simples de brincadeiras que não parecem, mas exigem da criança atitudes e raciocínios que desenvolvem entre outros aspectos, a linguagem, a coordenação motora, a percepção visual e espacial, a capacidade de memorizar, medir a distância e calcular a força, o equilíbrio, o ritmo, a contar os números, a cantar músicas, e tudo isso tranquilamente se divertindo com outras crianças.

      Assim deve acontecer com todas as infâncias, não é por acaso que o Princípio 7° da Declaração do Direito das Crianças diz “A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito.”. Todos nós temos que assegurar esse direito das crianças, principalmente nas escolas de Educação Infantil, que a cada dia, infelizmente, vêm perdendo o espaço da brincadeira para uma intelectualização precoce das crianças. Muitas escolas de Educação Infantil, na maioria das vezes para agradar e suprir expectativas errôneas dos pais que acham que escola não é lugar de brincar, reduzem o tempo das atividades lúdicas para lançar conteúdos com uma complexidade maior antecipadamente para as crianças. O que resulta em crianças na Educação Infantil com mil obrigações: seus deveres de casa e de aula, inúmeras provas e testes. Elas já começam desde cedo a terem que ser as melhores, até em “vestibulinho” eu já ouvi falar! Sem contar com os pais que querem ocupar todo o tempo de seus filhos no intuito de “prepará-los” para o futuro e os colocam em todas as atividades possíveis: no balé, na natação, na aula de inglês, de informática, de judô, futebol, violão, jazz, ufa! Acreditem, existem crianças que não tem tempo para brincar! As de família rica não brincam porque são cheias de horários e obrigações a serem cumpridas. Por outro lado, as crianças de família pobre não brincam porque têm que trabalhar desde cedo para ajudar nas despesas de casa. De qualquer forma será sempre lamentável e triste ver uma criança que não sabe ou não pode brincar. É preciso reintroduzir o hábito da brincadeira na sociedade, nas escolas e famílias, e os profissionais de Educação Infantil podem e devem contribuir neste aspecto, a escola de Educação Infantil deve ser um lugar alegre, repleto de oportunidades para a criança aprender de maneira lúdica – além de muito amor e carinho, muita música, brincadeiras, brinquedos, jogos, sons, sensações, formas e cores que estimule sua imaginação, sua capacidade de criar e pensar sobre o mundo que se apresenta a sua volta. Brincar é importante, diria até fundamental. O brincar é a forma da criança aprender o mundo!

      Saber brincar, relaxar, ver a vida com alegria e leveza é importante até mesmo para nós adultos. É preciso refletir. Estamos vivendo no limite, estamos todos sempre muito aflitos e inseguros, para tudo tem que se tirar a maior nota ou não adianta. A vida está se resumindo numa bruta competitividade mecânica com uma única regra: ser o melhor de todos! E essa brincadeira não tem a menor graça, não estamos sabendo “brincar”, e se mal conseguimos criar novas regras para essa brincadeira melhorar e ficar divertida de verdade, não poderemos se quer mais imaginar um futuro melhor para nossas crianças.




*Texto de Érica de Campos - publicado em dezembro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Violência e escola – Poderia existir alguma relação?

Por Érica de Campos





É comum presenciarmos por parte dos alunos (em todos os níveis da educação), principalmente na rede pública de ensino, atitudes agressivas no ambiente escolar ou a violência propriamente dita contra a escola ou até mesmo contra as pessoas ali presentes. Mas isso pode ocorrer por quê? É possível que a atitude pedagógica de uma instituição escolar possa contribuir para o desenvolvimento do comportamento agressivo em seus alunos?
Bem, é notável que com o passar dos anos a violência vem crescendo nas classes desfavorecidas e de baixa escolaridade. A não inserção do indivíduo como ser pensante e formador de opinião coloca-o à margem da sociedade – o transforma em uma pessoa excluída. Em contrapartida, a escola, inserida nesta realidade, pode e deve buscar soluções para contribuir com a melhora desta situação. Ora, mas se acontece da escola não cumprir o seu papel principal que é o de formar e incluir o cidadão na sociedade, afirmando-o como ser atuante no mundo, que motivos terá este para valorizar e respeitar a escola – uma escola que o exclui, que o discrimina?







Muitas vezes não é perceptível, mas a violência parte primeiramente da escola contra os alunos. É preciso alertar e cobrar dos profissionais de educação uma maior atuação no tocante desta situação para que esta mude. Nem sempre o educador entende que está praticando determinada violência contra seus alunos, que pode se manifestar em pequenos gestos e atitudes ou até mesmo em constrangimentos. Mas é preciso se policiar, somos humanos – nossa sociedade é preconceituosa e é possível que cheguemos a reproduzir esse comportamento no ambiente escolar, segundo Paulo Freire “faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade de ser humano e nega radicalmente a democracia.” - E é neste sentido que o educador deve direcionar seus atos. Essa violência contra o aluno é que na maioria das vezes gera a violência contra a escola: excluir um indivíduo de um direito que o tornaria um cidadão, pode culminar em uma futura marginalidade. O acesso real a educação e a cultura não deve ser privilégio de alguns, uma vez que a educação e a cultura, não só na teoria, deve ser para todos.
A escola nem sempre é atraente para o aluno, ignora-o ou simplesmente evita conhecer a realidade dele fazendo com que este se afaste, quando na verdade a escola deve ser um local que chame a atenção do aluno, produzindo um ambiente acolhedor e familiar. Esta falta de identificação obviamente também contribui para sua falta de interesse pela escola ou para promover uma atitude agressiva por parte desse indivíduo, que se manifesta de variadas maneiras, podendo ter como sinais desde um desentendimento bobo com colegas de turma ou funcionários à agressões mais sérias (verbais e ou físicas), depredação do espaço físico escolar, ou seja atitudes de desamor à instituição escolar gerando desrespeito às pessoas e ao ambiente pertencentes a este universo; chegando até mesmo à uma futura evasão escolar, questão esta preocupante que o poder público de nosso país ainda tenta solucionar.
Embora diversas campanhas e projetos visando diminuir essas situações na escola, infelizmente ainda são comuns, difícil mesmo é encontrar escolas que tenham e mantenham (pois por vezes faltam incentivos) uma atitude pedagógica que se preocupe com estas questões. Atitudes estas, dependendo do ponto de vista, até bem simples - que se baseiam em criar melhores oportunidades ao indivíduo de diálogo, diálogo este que obviamente irá facilitar o trabalho dos educadores, pois esse aluno se sentirá a vontade para expor seus medos e anseios, necessidades e opiniões: o seu mundo. Por sua vez a escola tendo o conhecimento necessário sobre este aluno para criar e recriar condições adequadas para ele se desenvolver de maneira que possa enxergar e entender, de uma vez por todas, a escola como um local de troca, de construção de conhecimento, de aprender que há direitos e deveres a serem cumpridos, de relacionamento interativo, um lugar que ele goste de estar e não um lugar de imposições e regras a serem obedecidas, o que sabemos há tempos (embora possa parecer menos trabalhoso para alguns) não resolve absolutamente nada.





*Leia Vigilância, punição e depredação escolar, de Áurea Guimarães. Neste livro ela analisa aquilo que foge das teias do poder do Estado, mas que, no final, acaba por alimentá-lo ainda mais. Ou seja o que Michel Foucault denomina de "micropoderes": pequenas instâncias discretas, quase invisíveis, que se revelam por meio de regulamentos, conselhos, avisos, proibições. Com base em pesquisa feita com alunos de escolas estaduais, em Campinas, a autora mostra alguns motivos que levavam os próprios alunos a danificar o prédio escolar. Nota-se que, sempre que ocorriam as depredações, a escola reforçava os mecanismos disciplinares que se encarregavam de ajustar comportamentos, neutralizando agitações, críticas e a organização espontânea dos alunos. É necessário ampliar o debate sobre até que ponto a escola simplesmente reflete o que acontece na sociedade, onde o poder disciplinar se apóia basicamente em técnicas de dominação, preparando os indivíduos para a observação passiva de normas, que são a expressão dos mecanismos de poder, controle, vigilância e punição.


*Texto de Érica de Campos - publicado em novembro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.


Ter ou não ter - eis a questão!

Por Érica de Campos




Posso até estar errada, mas creio que o ser humano pode vir a se tornar tão "coletivo" que por muitas vezes abre mão do SER para TER, ou melhor dizendo, para SER é preciso TER. Ter, somente para se sentir incluído, para fazer parte do grupo, para ter a "confortável" sensação de que faz parte do mundo. Infelizmente, o nosso mundinho capitalista, globalizado quer que todos nós, além de vestir, comer, falar a mesma língua, ter fé no mesmo credo, entre outras coisas mais, deseja que pensemos todos da mesma forma!


O consumismo nos torna seres incapazes de nos fazermos felizes e completos por nós mesmos, e acabamos por entregar a realização de nossa felicidade à satisfação das conquistas palpáveis. E não são só os adultos que estão impregnados com o vírus do consumismo. Atualmente é perceptível o aumento de crianças cada vez mais consumistas, sem nenhum limite - é preciso ter celulares (um só já não é mais suficiente!), roupas e calçados das marcas mais caras (geralmente iguais as de seus ídolos midiáticos), máquinas fotográficas digitais, laptops, mp3, 4, 5, 10, 1000! Pendrives, games, TV's, ipods, enfim, tudo de última geração! E se você não tiver, sinto muito! Você está fora da realidade, não está inserido no mundo! Quem será você?!



Mas não devemos ser radicais. O problema não está na tecnologia. A tecnologia é totalmente útil, tendo como função facilitar nossa vida, é fruto de inúmeros estudos, do esforço de muita gente! O que não poderia estar ocorrendo é essa banalização, é o não saber utilizar ou utilizar de forma burra, é esse excesso, é esse culto ao consumismo exacerbado quando vivemos em um mundo onde milhares de pessoas ainda morrem de fome!
Por essas e tantas outras razões, observo e penso muito sobre a forma que a Internet tem sido utilizada por crianças e adolescentes, pois estes, em processo de formação (em muitos sentidos) são bem mais vulneráveis à manipulações. Creio que ter acesso à Internet (que nos traz o mundo para você com um clique) não é tão simples quanto parece, é preciso orientação, pois se as mídias mais simples (rádio, televisão, jornal, revista, etc.) podem induzir tanto e de diversas formas, imaginem a Internet, tão mais sedutora! A Internet, esta filha mais famosa da tecnologia recente e que se tornou uma forma de mídia, aliás, multimídia, tem um “poder” muito maior de convencimento, e a  cultura do TER em detrimento do SER pode ser amplamente difundida sem ao menos percebermos.
O acesso crescente à Internet cresce em nosso país. E o interessante seria usarmos este fato, ou seja, a própria Internet, para ir contra essa cultura do consumir por consumir. A maioria das pessoas simplesmente a utilizam, por mero entretenimento inútil (não que eu seja contra o entretenimento, aliás todos precisamos!), e por muitas vezes, os próprios pais introduzem seus filhos nesse mundo colorido e vazio sem nenhuma orientação. Nenhum pai ou mãe dá comida estragada à seus filhos, o mesmo deveria ser feito ao colocarem seus filhos frente à Internet: o ideal seria que os pais pesquisassem e selecionassem as páginas para seus filhos, uma vez que existem inúmeras de qualidade dedicadas à crianças e adolescentes, dedicadas à educação. Talvez, esteja nas mãos de alguns educadores mais conscientes promover uma mudança de hábitos na utilização da Internet, não que seja esta exclusiva responsabilidade deles! Mas, atualmente, não se pode mais pensar em educação sem pensar na utilização das tecnologias para auxiliá-la. Penso que é dever de todo e qualquer educador buscar e produzir fontes de conhecimento que façam com que os educandos criem seu próprio pensamento crítico em relação ao que é colocado para ele, não é possível que se aceite tudo sem pensar antes sobre o porquê e a necessidade das coisas. A Internet e seus bilhões de informações instantâneas está presente no cotidiano, não se pode mais negar o fato. E é preciso ensinar aos nossos educandos à usar este recurso de maneira mais responsável e útil. Ensiná-los à filtrarem o que eles julgam ser benéfico e ou necessário ou não, segundo o que eles são e vivem, segundo a realidade do mundo; mostrar todas as hipóteses e possibilidades, pontos de vistas e a partir daí, pensar, analisar e chegar a uma conclusão, ainda que não seja definitiva (pois nada é definitivo), mas chegar a esta com seus méritos sem ser passivamente influenciado. E isso (acreditem!) é totalmente possível na Internet, onde pessoas isentas de compromisso com grandes corporações, deixam suas idéias expostas para qualquer um acessar, onde qualquer pessoa pode participar com inúmeros pontos de vistas diferentes. É fato que existe muita coisa de má qualidade, mas em contrapartida, há muita coisa de excelente qualidade também. Por isso torno a repetir, o segredo está na orientação e criação de maneiras diversas de ensinar ao nosso educando a buscar e filtrar as informações da maneira mais útil possível. Utopia? Depende. Que seja um único educador, que ao ler este texto tente criar formas de mostrar aos seus educandos que é possível pensar por si próprio, que a diversidade faz parte da vida, mostrando que é possível despertar o pensamento crítico; e se de seus alunos apenas um compreender e passar a construir e viver por suas próprias opiniões, querer SER ao invés de TER, nossa! Serei alguém muito feliz no que me propus a fazer: ser uma EDUCADORA, antes de qualquer coisa.




* Assista o documentário brasileiro Criança, a alma do negócio da cineasta Estela Renner, que através de gravações de depoimentos de crianças e seus responsáveis, faz uma reflexão sobre como as crianças estão se tornando cada vez mais consumistas. O documentário pode ser assistido na íntegra no site do Instituto Alana, que mantém o Projeto Criança e Consumo com notícias e informações sobre a temática, além uma biblioteca vasta sobre o assunto.



Primeira parte do documentário brasileiro Criança, a alma do negócio da cineasta Estela Renner, que está disponível no YouTube dividido em seis partes.
Assista e DIVULGU!



*Texto de Érica de Campos - publicado em outubro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.