Já escrevi aqui no blog sobre minha opinião a respeito dos videogames em Games e Educação - Uma parceria para a melhora do processo ensino-aprendizagem. Quem me conhece sabe que amo videogame e que sempre estou envolvida com o enredo de algum jogo. Defendo os jogos eletrônicos porque não acredito, ainda diferente da maioria dos educadores e responsáveis, que eles possam ser uma ameaça à educação, ao contrário, esses jogos podem ser aliados fortíssimos no processo ensino-aprendizagem. Eu mesma já aprendi muito com eles, abri a mente para diversas culturas diferentes da minha, pois o conhecimento também se dá em espaços fora dos muros escolares.
Hoje me deparei com uma matéria de Iana Chan do site Educar para Crescer, publicada no dia 23/04/2013, interessantíssima entrevista com a Pedagoga Lynn Alves, especialista em Educação e Tecnologia, sobre o tema e gostaria de compartilhar aqui no blog, uma vez que esse tema ainda de certa forma é um tabu para a sociedade em geral, acho válida toda tentativa de eliminar os preconceitos e mitos que envolvem os jogos eletrônicos que não estão englobados nos chamados jogos educativos.
Segue abaixo o texto, com alguns links acrescentados.
Videogame faz mal para as crianças?
Lynn Alves, especialista em Educação e Tecnologia, mostra que os jogos eletrônicos são mais do que puro entretenimento e não determinam comportamentos violentos
No computador, no celular, na televisão, no console portátil... Os jogos eletrônicos estão em todos os lugares e fazem a cabeça não só de crianças e jovens, mas também de muitos adultos. Seu filho com certeza passa algumas (ou muitas) horas por semana na companhia desses jogos. Será que isso é motivo de preocupação? Jogos eletrônicos podem mesmo levar a comportamentos violentos ou solitários? Atrapalham os estudos?
A professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e especialista no assunto Lynn Alves defende que não. Diversas pesquisas acadêmicas já desmentiram esses mitos e reconhecem o potencial de aprendizagem dos games, além de sua importância como entretenimento cultural, desde que não se tornem um vício, claro. "Mesmo os games comerciais, ditos não-educativos também podem contribuir para o desenvolvimento de diversas habilidades cognitivas, como interpretação de problemas e tomada de decisão", explica.
Em sua tese de doutorado, Lynn analisou a famosa associação entre jogos e comportamentos violentos. Ela descobriu que os jogos são uma oportunidade para os jovens trabalharem seus medos, desejos e frustrações. É como se eles realizassem essas emoções sem precisar correr riscos. E é por isso que os pais devem acompanhar de perto a relação de seus filhos com os jogos: eles não determinam comportamentos violentos, mas podem potencializar algo que já existe na criança. "Se a criança ou jovem apresenta um comportamento violento quando joga", orienta Lynn, "ela está sinalizando que algo não vai bem, e os pais devem investigar se aproximando do filho ou procurando um especialista."
A popularidade dos jogos eletrônicos está sendo aproveitada inclusive pelas escolas e essa é tendência importante que os pais devem acompanhar. Lynn também coordena o grupo de pesquisadores da UNEB, que, dentre outras coisas, desenvolve jogos com fins de aprendizagens. O mais recente deles, Búzios - Ecos da Liberdade, é um jogo de aventura que trabalha a Revolta dos Alfaiates, movimento histórico baiano. A estratégia desperta no aluno o desejo por novas informações sobre o conteúdo. "Ele não aprende só no jogo, mas é instigado a ampliar as informações", explica Lynn.
Confira as orientações da especialista na entrevista:
►Os pais devem se preocupar com jogos eletrônicos?
Lynn Alves: Os pais sempre trataram o videogame como puro entretenimento e, por isso, o tempo gasto com essa atividade era visto como desperdício ou, então, consideravam os jogos violentos demais, e isso supostamente influenciava as crianças negativamente. Essa visão é extremamente maniqueísta, mas está mudando. Um estudo nos Estados Unidos mostra que os pais já conseguem perceber que os jogos podem se transformar em aprendizagem.
No Brasil, ainda há uma parcela de pais desconfiados. As pesquisas acadêmicas estão ajudando nesse trabalho de conscientização, mostrando o potencial pedagógico e de aprendizagem dos games. O aspecto do entretenimento também é importante, jogos como o Minecraft [em que os jogadores coletam matéria-prima para construir com blocos qualquer coisa] provam que é possível aprender por meio da diversão.
►Como os jogos eletrônicos contribuem para o desenvolvimento de crianças e jovens?
Lynn Alves: Os jogos eletrônicos desenvolvem diversas competências e habilidades cognitivas, além de trabalharem aspectos afetivos das crianças e jovens. Todo jogo propõe um problema a ser resolvido. Para tal, o jogador precisa imergir no universo, sondá-lo e conhecê-lo, estabelecer metas para alcançar o objetivo e verificar quais são as ferramentas disponíveis para solução. Tudo isso exige planejamento estratégico, antecipação, negociação, criatividade, imaginação e até coordenação motora. Além disso, os jogos são espaços de sociabilidade e elaboração de conflitos, medos e angústias. Em jogos coletivos, por exemplo, é preciso colaboração e cooperação para alcançar um objetivo.
►Os jogos eletrônicos são capazes de determinar atitudes violentas?
Lynn Alves: A mídia fomenta essa visão: os acontecimentos violentos, como o massacre dos estudantes em Columbine, são prontamente associados ao fato de o criminoso jogar videogame. A violência é um fenômeno mais complexo, que envolve questões sociais, econômicas, culturais, políticas e afetivas...
Não existe uma relação de causa e efeito entre jogos e comportamentos violentos. Se um jovem lidar com qualquer mídia (filme, série ou jogo) violenta e apresentar uma atitude violenta, é preciso investigar. Ele está sinalizando que algo não vai bem e os pais devem investigar se aproximando dele ou encaminhando a situação para um especialista. O jogo não é capaz de determinar um comportamento violento, embora possa, sim, potencializar algo que já existe. Os adolescentes vão dando sinais e a gente não se dá conta...
►Como os pais podem garantir o uso saudável dos jogos eletrônicos?
Lynn Alves: Eles devem ficar atentos aos conteúdos dos jogos com os quais a criança interage. Os pais precisam conhecer. Ele deve questionar como seu filho compreende o conteúdo presente no jogo, as questões ideológicas, as éticas, as de gênero etc. Perguntar "o que você está entendendo deste jogo?". Outra dica é se aproximar do universo dos jogos, pesquisando, e criar um relacionamento mais próximo com seu filho.
►Como os pais podem identificar um jogo de boa qualidade?
Lynn Alves: Hoje temos um universo de conteúdo disponível. Se o pai quer estar a par do mundo dos jogos e participar, ele pode entra no Youtube para ver e pesquisar. Ele pode também pesquisar em fóruns a opinião dos próprios jogadores. Há um banco de dados enorme disponível que os ajuda a conhecer e saber se o conteúdo é adequado ou não para o filho dele.
O Ministério da Justiça disponibiliza a classificação indicativa de cada jogo. Entre as características a serem observados, destaco a história do jogo, a narrativa, a jogabilidade (facilidade em jogar), as cenas e o conteúdo. Os pais precisam avaliar se seu filho já é maduro o suficiente para lidar com essa.
►Quais são as vantagens de utilizar um jogo educativo nas escolas?
Lynn Alves: Na verdade, trabalho com a ideia de qualquer jogo pode ser educativo, inclusive os jogos comerciais. O que temos hoje são jogos com fins educacionais, que trabalham conteúdos escolares. Com eles, a aprendizagem se torna mais lúdica e prazerosa. O aluno não aprende só no jogo, mas é instigado por ele a buscar novas informações sobre o conteúdo. O jogo pode consolidar o conteúdo que já foi iniciado pela escola. Além de despertar o interesse, o jogo traz ganhos afetivos e sociais, tornando as crianças mais autônomas e cooperativas.
É possível, por exemplo, trabalhar conceitos da Física a partir de Angry Birds [popular jogo de ação em que é preciso lançar pássaros por meio de um estilingue para acertar porcos verdes] ou ver conceitos históricos por meio de jogos como Call of Duty ou Assassins Creed [famosos jogos de tiro e ação-aventura, respectivamente].
►Quais são os principais desafios para ainclusão dos jogos eletrônicos nas escolas?
Lynn Alves: Os desafios são enormes, desde a falta de tecnologia, passando pela formação dos professores e também pela questão cultural. Procurei escolas para participar do edital do nosso jogo e muitas recusaram. Fazer isso dá muito trabalho, porque envolve sair do lugar. Os professores precisariam pensar e repensar a prática a partir da interação do jogo, refazer o cotidiano da sala de aulas... A maioria das escolas já tem o laboratório, mas é preciso oferecer cursos que formem os professores, discutindo práticas educacionais e pedagógicas. Se não for assim, não acontece.
►Mais informações:
Sobre Lynn Alves
Sobre Classificação Indicativa: Guia Prático
Fonte do texto: Videogame faz mal para as crianças?