domingo, 24 de outubro de 2010

“É desde de menino que se torce o pepino”

Por Érica de Campos






Não é de hoje que a questão do hábito e gosto pela leitura não é muito popular entre os brasileiros. Mas se a maioria das pessoas gira em torno de práticas comuns, porque o hábito da leitura, o gosto por livros, pela literatura, também não se torna uma prática comum a todos?
Já dizia e diz o ditado: “É desde de menino que se torce o pepino”. Pode parecer bobeira, mas aí está a sabedoria popular nos trazendo luz à questão - É na infância que se deve iniciar o contato com os livros, com as palavras, pois, antes mesmo de aprender a “ler as letras”, já somos capazes de ler as imagens, ler o mundo e seus significados, o que, cá entre nós,  hoje em dia é imprensedível para aqueles que pretendem buscar o seu lugar ao sol.
Não subestimemos nossas crianças, e muito menos deixemos a tarefa de ensinar nossos filhos a ler para a escola. Quando chegar o momento, a escola obviamente terá que desempenhar o seu papel quanto a este assunto, mas é também dever da família mostrar à criança este universo, que vai muito mais além do bê-á-bá, que não julgo desnecessário, pois é preciso entender os códigos da língua, porém, há diferença entre juntar letras e o ato de ler.
O ato de ler está baseado no exercício, na articulação do pensar e agir, enquanto o juntar letras restringe-se apenas na decodificação e repetição mecânica de símbolos, sem nenhum tipo de interpretação, sem análise crítica, ou seja, sem entendimento completo.
A família desempenha um papel importante na vida da criança, e deve promover o ato de ler para que, ao ser incorporado no ambiente de casa (que é a sua realidade) construa seu gosto pessoal pela leitura, inclusive, esta prática não só estará contribuindo para que esta criança desenvolva a capacidade de leitura e análise critica do mundo, como também, antes do que se imagina, facilitará o seu processo de alfabetização. Ou seja, esse gosto pelo ato de ler pode sim, ser transmitido dentro de casa, e deverá se tornar futuramente uma parceria entre família e escola.
Não estou aqui dizendo que as famílias agora devem rechear a infância de seus filhos com dicionários e enciclopédias.  Este universo do qual estou falando, é muito mais simples do que se possa imaginar, pois poderia estar agregado ao nosso cotidiano como algo comum, aliás, já esteve há tempos atrás, mesmo sem querer, na época da vovozinha, mas em meio a essa nossa vidinha moderna que temos adotado, mediante as escolhas que achamos que somos obrigados a fazer, deixamos de lado o que supúnhamos mais banal – o convívio e a real preocupação com a criação de nossos filhos. Simples assim. Falo, por exemplo, do contato que se dá seja através das canções de ninar ou das histórias de família contadas às crianças, pois esses são momentos que auxiliam no incentivo a leitura, criando um ambiente de participação e curiosidade da criança, criando um vínculo mais forte ainda entre pais e filhos. Seja em um incentivo da mãe, ao criar oportunidades de contato com as palavras, com os nomes das coisas, pelas ilustrações de livros, cantigas de roda, histórias contadas, brincadeiras de faz-de-conta ou em um incentivo do pai auxiliando no processo de alfabetização, na invenção de uma história através de desenhos, no ato de recontar a história de um filme, enfim, são pequenas ações cotidianas que podem incluir e conduzir o incentivo à leitura.
Ninguém pode gostar do que não conhece. Assim também acontece com o livro – se ninguém assume o papel de apresentar o livro à criança, sabendo ela ler ou não, como poderá esta se interessar e se render aos encantos do universo dessa linguagem maravilhosa que o livro e a literatura possuem? Logo, o ideal seria que a família desse início a este contato entre a criança e a literatura, habituando-a desde a mais tenra idade a ouvir as mais diversas histórias nas mais diversas situações no cotidiano de sua casa, ou seja, tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona, e quanto mais cedo isso ocorrer melhor será – a criança, antes mesmo de freqüentar a escola, vai criar o interesse pela leitura, vai querer buscar no livro e encontrar uma fonte de alegria e prazer. Esse ato, geralmente, ultrapassa os limites de casa, e como se fosse uma cadeia de sequências, leva a criança a procurar e criar o hábito de ler e de visitar livrarias, bibliotecas, feiras de livros infantis, entre outros. Sendo muito fácil a compreensão de tal fenômeno: se existe em casa um ambiente favorável para leitura, familiares que preservam este hábito, as crianças, por sua vez, procurarão imitá-los.


Os pais podem iniciar este processo contando histórias para os filhos dormirem, incentivá-los a criar e contar histórias em casa (na presença de outras crianças como irmãos, amigos ou primos fica mais fácil ainda), presenteá-los com livros, passear em feiras literárias, assim haverá sempre uma troca de conhecimentos e se torna possível criar um estímulo para que as crianças desenvolvam um real prazer pela leitura, pois, até mesmo crescendo em ambientes repletos de livros, ainda assim, não adiantaria nada se o contato com o livro não acontecesse de forma natural e prazerosa. Assim, se cada um de nós incentivarmos o contato com os livros, nossas crianças - futuros adultos - começarão a se interessar de verdade pela leitura.



Algumas vantagens para quem desenvolve e mantêm o hábito da leitura:





  • Amplia o vocabulário;
  • Facilita a escrita;
  • Estimula a criatividade e a imaginação;
  • Aumenta a capacidade de desenvolver boas idéias;
  • Acumula conhecimento e experiência;
  • Ajuda no entendimento do seu mundo e do mundo à sua volta;
  • Ajuda a conhecer e respeitar outras culturas e modos de vida, diminuindo as possibilidades do   desenvolvimento de preconceitos.









* Texto de Érica de Campos - publicado em julho de 2010, na Coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - Jornal de circulação no município de São João de Meriti / RJ.
* Imagens do cartunista e escritor Ziraldo

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