É comum presenciarmos por parte dos alunos (em todos os níveis da educação), principalmente na rede pública de ensino, atitudes agressivas no ambiente escolar ou a violência propriamente dita contra a escola ou até mesmo contra as pessoas ali presentes. Mas isso pode ocorrer por quê? É possível que a atitude pedagógica de uma instituição escolar possa contribuir para o desenvolvimento do comportamento agressivo em seus alunos?
Bem, é notável que com o passar dos anos a violência vem crescendo nas classes desfavorecidas e de baixa escolaridade. A não inserção do indivíduo como ser pensante e formador de opinião coloca-o à margem da sociedade – o transforma em uma pessoa excluída. Em contrapartida, a escola, inserida nesta realidade, pode e deve buscar soluções para contribuir com a melhora desta situação. Ora, mas se acontece da escola não cumprir o seu papel principal que é o de formar e incluir o cidadão na sociedade, afirmando-o como ser atuante no mundo, que motivos terá este para valorizar e respeitar a escola – uma escola que o exclui, que o discrimina?
Muitas vezes não é perceptível, mas a violência parte primeiramente da escola contra os alunos. É preciso alertar e cobrar dos profissionais de educação uma maior atuação no tocante desta situação para que esta mude. Nem sempre o educador entende que está praticando determinada violência contra seus alunos, que pode se manifestar em pequenos gestos e atitudes ou até mesmo em constrangimentos. Mas é preciso se policiar, somos humanos – nossa sociedade é preconceituosa e é possível que cheguemos a reproduzir esse comportamento no ambiente escolar, segundo Paulo Freire “faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade de ser humano e nega radicalmente a democracia.” - E é neste sentido que o educador deve direcionar seus atos. Essa violência contra o aluno é que na maioria das vezes gera a violência contra a escola: excluir um indivíduo de um direito que o tornaria um cidadão, pode culminar em uma futura marginalidade. O acesso real a educação e a cultura não deve ser privilégio de alguns, uma vez que a educação e a cultura, não só na teoria, deve ser para todos.
A escola nem sempre é atraente para o aluno, ignora-o ou simplesmente evita conhecer a realidade dele fazendo com que este se afaste, quando na verdade a escola deve ser um local que chame a atenção do aluno, produzindo um ambiente acolhedor e familiar. Esta falta de identificação obviamente também contribui para sua falta de interesse pela escola ou para promover uma atitude agressiva por parte desse indivíduo, que se manifesta de variadas maneiras, podendo ter como sinais desde um desentendimento bobo com colegas de turma ou funcionários à agressões mais sérias (verbais e ou físicas), depredação do espaço físico escolar, ou seja atitudes de desamor à instituição escolar gerando desrespeito às pessoas e ao ambiente pertencentes a este universo; chegando até mesmo à uma futura evasão escolar, questão esta preocupante que o poder público de nosso país ainda tenta solucionar.
Embora diversas campanhas e projetos visando diminuir essas situações na escola, infelizmente ainda são comuns, difícil mesmo é encontrar escolas que tenham e mantenham (pois por vezes faltam incentivos) uma atitude pedagógica que se preocupe com estas questões. Atitudes estas, dependendo do ponto de vista, até bem simples - que se baseiam em criar melhores oportunidades ao indivíduo de diálogo, diálogo este que obviamente irá facilitar o trabalho dos educadores, pois esse aluno se sentirá a vontade para expor seus medos e anseios, necessidades e opiniões: o seu mundo. Por sua vez a escola tendo o conhecimento necessário sobre este aluno para criar e recriar condições adequadas para ele se desenvolver de maneira que possa enxergar e entender, de uma vez por todas, a escola como um local de troca, de construção de conhecimento, de aprender que há direitos e deveres a serem cumpridos, de relacionamento interativo, um lugar que ele goste de estar e não um lugar de imposições e regras a serem obedecidas, o que sabemos há tempos (embora possa parecer menos trabalhoso para alguns) não resolve absolutamente nada.
*Leia Vigilância, punição e depredação escolar, de Áurea Guimarães. Neste livro ela analisa aquilo que foge das teias do poder do Estado, mas que, no final, acaba por alimentá-lo ainda mais. Ou seja o que Michel Foucault denomina de "micropoderes": pequenas instâncias discretas, quase invisíveis, que se revelam por meio de regulamentos, conselhos, avisos, proibições. Com base em pesquisa feita com alunos de escolas estaduais, em Campinas, a autora mostra alguns motivos que levavam os próprios alunos a danificar o prédio escolar. Nota-se que, sempre que ocorriam as depredações, a escola reforçava os mecanismos disciplinares que se encarregavam de ajustar comportamentos, neutralizando agitações, críticas e a organização espontânea dos alunos. É necessário ampliar o debate sobre até que ponto a escola simplesmente reflete o que acontece na sociedade, onde o poder disciplinar se apóia basicamente em técnicas de dominação, preparando os indivíduos para a observação passiva de normas, que são a expressão dos mecanismos de poder, controle, vigilância e punição.
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