domingo, 5 de dezembro de 2010

Ter ou não ter - eis a questão!

Por Érica de Campos




Posso até estar errada, mas creio que o ser humano pode vir a se tornar tão "coletivo" que por muitas vezes abre mão do SER para TER, ou melhor dizendo, para SER é preciso TER. Ter, somente para se sentir incluído, para fazer parte do grupo, para ter a "confortável" sensação de que faz parte do mundo. Infelizmente, o nosso mundinho capitalista, globalizado quer que todos nós, além de vestir, comer, falar a mesma língua, ter fé no mesmo credo, entre outras coisas mais, deseja que pensemos todos da mesma forma!


O consumismo nos torna seres incapazes de nos fazermos felizes e completos por nós mesmos, e acabamos por entregar a realização de nossa felicidade à satisfação das conquistas palpáveis. E não são só os adultos que estão impregnados com o vírus do consumismo. Atualmente é perceptível o aumento de crianças cada vez mais consumistas, sem nenhum limite - é preciso ter celulares (um só já não é mais suficiente!), roupas e calçados das marcas mais caras (geralmente iguais as de seus ídolos midiáticos), máquinas fotográficas digitais, laptops, mp3, 4, 5, 10, 1000! Pendrives, games, TV's, ipods, enfim, tudo de última geração! E se você não tiver, sinto muito! Você está fora da realidade, não está inserido no mundo! Quem será você?!



Mas não devemos ser radicais. O problema não está na tecnologia. A tecnologia é totalmente útil, tendo como função facilitar nossa vida, é fruto de inúmeros estudos, do esforço de muita gente! O que não poderia estar ocorrendo é essa banalização, é o não saber utilizar ou utilizar de forma burra, é esse excesso, é esse culto ao consumismo exacerbado quando vivemos em um mundo onde milhares de pessoas ainda morrem de fome!
Por essas e tantas outras razões, observo e penso muito sobre a forma que a Internet tem sido utilizada por crianças e adolescentes, pois estes, em processo de formação (em muitos sentidos) são bem mais vulneráveis à manipulações. Creio que ter acesso à Internet (que nos traz o mundo para você com um clique) não é tão simples quanto parece, é preciso orientação, pois se as mídias mais simples (rádio, televisão, jornal, revista, etc.) podem induzir tanto e de diversas formas, imaginem a Internet, tão mais sedutora! A Internet, esta filha mais famosa da tecnologia recente e que se tornou uma forma de mídia, aliás, multimídia, tem um “poder” muito maior de convencimento, e a  cultura do TER em detrimento do SER pode ser amplamente difundida sem ao menos percebermos.
O acesso crescente à Internet cresce em nosso país. E o interessante seria usarmos este fato, ou seja, a própria Internet, para ir contra essa cultura do consumir por consumir. A maioria das pessoas simplesmente a utilizam, por mero entretenimento inútil (não que eu seja contra o entretenimento, aliás todos precisamos!), e por muitas vezes, os próprios pais introduzem seus filhos nesse mundo colorido e vazio sem nenhuma orientação. Nenhum pai ou mãe dá comida estragada à seus filhos, o mesmo deveria ser feito ao colocarem seus filhos frente à Internet: o ideal seria que os pais pesquisassem e selecionassem as páginas para seus filhos, uma vez que existem inúmeras de qualidade dedicadas à crianças e adolescentes, dedicadas à educação. Talvez, esteja nas mãos de alguns educadores mais conscientes promover uma mudança de hábitos na utilização da Internet, não que seja esta exclusiva responsabilidade deles! Mas, atualmente, não se pode mais pensar em educação sem pensar na utilização das tecnologias para auxiliá-la. Penso que é dever de todo e qualquer educador buscar e produzir fontes de conhecimento que façam com que os educandos criem seu próprio pensamento crítico em relação ao que é colocado para ele, não é possível que se aceite tudo sem pensar antes sobre o porquê e a necessidade das coisas. A Internet e seus bilhões de informações instantâneas está presente no cotidiano, não se pode mais negar o fato. E é preciso ensinar aos nossos educandos à usar este recurso de maneira mais responsável e útil. Ensiná-los à filtrarem o que eles julgam ser benéfico e ou necessário ou não, segundo o que eles são e vivem, segundo a realidade do mundo; mostrar todas as hipóteses e possibilidades, pontos de vistas e a partir daí, pensar, analisar e chegar a uma conclusão, ainda que não seja definitiva (pois nada é definitivo), mas chegar a esta com seus méritos sem ser passivamente influenciado. E isso (acreditem!) é totalmente possível na Internet, onde pessoas isentas de compromisso com grandes corporações, deixam suas idéias expostas para qualquer um acessar, onde qualquer pessoa pode participar com inúmeros pontos de vistas diferentes. É fato que existe muita coisa de má qualidade, mas em contrapartida, há muita coisa de excelente qualidade também. Por isso torno a repetir, o segredo está na orientação e criação de maneiras diversas de ensinar ao nosso educando a buscar e filtrar as informações da maneira mais útil possível. Utopia? Depende. Que seja um único educador, que ao ler este texto tente criar formas de mostrar aos seus educandos que é possível pensar por si próprio, que a diversidade faz parte da vida, mostrando que é possível despertar o pensamento crítico; e se de seus alunos apenas um compreender e passar a construir e viver por suas próprias opiniões, querer SER ao invés de TER, nossa! Serei alguém muito feliz no que me propus a fazer: ser uma EDUCADORA, antes de qualquer coisa.




* Assista o documentário brasileiro Criança, a alma do negócio da cineasta Estela Renner, que através de gravações de depoimentos de crianças e seus responsáveis, faz uma reflexão sobre como as crianças estão se tornando cada vez mais consumistas. O documentário pode ser assistido na íntegra no site do Instituto Alana, que mantém o Projeto Criança e Consumo com notícias e informações sobre a temática, além uma biblioteca vasta sobre o assunto.



Primeira parte do documentário brasileiro Criança, a alma do negócio da cineasta Estela Renner, que está disponível no YouTube dividido em seis partes.
Assista e DIVULGU!



*Texto de Érica de Campos - publicado em outubro de 2010, na coluna Educação do jornal mensal A Voz do Lojista Meritiense - jornal de circulação no município de São João de Meriti/RJ.

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